terça-feira, janeiro 23, 2007

Carta de resgate

Queria descrever esse sentimento, isso que tem me atormentado nos últimos dias. Se pudesse me livraria, já o teria feito a muito tempo, mas a distancia me castiga, e me força a esperar com olhos embaçados o tempo. O ontem é comemorado, menos um dia vazio; o hoje são essas horas que espero com agonia pelo dia seguinte que tem gosto em tardar; o amanha é tão triste... Quantos amanhas mais terei de esperar até o amanha final? Mais uma vez castigada: sei contar o tempo. Marcando numa folha qualquer as noites mal vividas, mesmo estando desejosa da próxima. E é tanta expectativa, que aos prantos vejo passar apenas 5 minutos desde a última vez que verifiquei as horas. Parando para pensar no tempo, agora vazio e incontável, percebo esse espaço no peito, pulsando pelo que não pode ter, gritando e sangrando de amargura, com tantos ferros e marcas que o prendem, logo será imperceptível até mesmo suas batidas, tenras de tanto desgosto... Desgosto do tempo, da distancia, das idéias que envenenam a mente, dos olhos marejados de lagrimas, da falta de cor, de som, da falta do cheiro, desgosto da tal saudade. É isto! A saudade que antes era sombra, agora é corpo inteiro. É fome de carne (mesmo provando de todas, ser ainda assim insaciável), sede de saliva (que não morre, mas me mata), é não sentir nenhum outro cheiro (ignorante dos demais odores), o toque insensível (apesar de tocar apenas a mim mesma), só a cegueira não me incomoda (por ser, talvez, meu último critério de citação). Felizes são as lembranças, imagens intocáveis, tão queridas, mas que logo a saudade vem manchar... Então recorro ao sonho para aproximar, é tão breve, segue-se o despertar. Despertar para o que? Não há nada na realidade que agora me satisfaça. Já não durmo mais, pois até os sonhos a saudade me tirou (tornaram-se sufocantes). Não sei o que oferecer por minha liberdade, nada tenho! Nem a mim mesma pertenço mais... Só tenho a tal da saudade que não sei descrever...

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